Claro que há escolas para pessoas se tornarem civilizadas, mas há também escolas do meio ambiente, chamadas biomas. No Brasil temos algumas escolas importantíssimas que ensinam o equilíbrio suficiente para a diversidade de seres e plantas encontrarem seu ponto de mutação sem comprometer a paz da sua convivência. Penso que no aspecto desta convivência os biomas naturais acharam seu ponto comum com os homens, mas eles não o encontraram ainda, apesar dos séculos de escola.
O pantanal sul mato-grossense pelas aulas de convivência equilibrada entre seu amplo espectro de diversidade inspirou cantadores, poetas e criadores de gado. Criaram, além do gado, um caráter manso e uma ética tipicamente pantaneira, onde o tempo que doma a impaciência é ensinado pelo nascimento dos bezerros e pela época da cheia. Não sei se há submissão entre homem e bioma no pantanal, mas certamente há boa convivência suficiente para alimentar todos que aceitem a ética pantaneira. Homens fizeram fortuna com isso sem exibicionismo. Pássaros e peixes fizeram gerações anônimas. É uma boa escola civilizatória em tempos de mudanças climáticas, porem é preciso cuidado com a vizinhança, pois a exemplo dos incêndios na Califórnia, para onde se refugiaram os que buscavam equilíbrio existencial pelo convívio com o natural possível, aqui o perigo talvez não seja o fogo, mas a ganancia expansionista que muitos acreditam ser a chave da felicidade equilibrada.
As gerações tradicionais de criadores de gado de Mato Grosso do Sul tem sua origem na ética pantaneira, por isso, ao viverem na planície aprenderam a enxergar longe e ter paciência, menos com a ganancia apressada que, deselegante, quer atropelar a tudo e a todos.
O boi orgânico, ideia genial de pantaneiro legitimo Leonardo Leite de Barros, filho de Abílio e Carolina – minha ex-professora de faculdade é o contraponto necessário pata retomar a paciência da convivência pantaneira, inaugurando uma nova sala de aula para aprenderem a não se esquecer de que o tempo e o vento levam somente o imediato. A terra, seus biomas com cabelos verdes e seres inquietos pela vida permanecem, buscando o equilíbrio das coisas. Pena que não tenha um ha para desfrutar e escrever mais sobre a ética pantaneira. Pelo menos tenho amigos Barros, Lopes Cáceres, Coelhos e Martins e outros não menos importantes, que juntos são um século de ética e vida pantaneira. Acho que agora se tornaram, por osmose pantaneira, meio bioma e meio gente, por isso se tornaram pacíficos com inteligência ecológica também, onde o dinheiro não é tudo, apenas uma forma de referencia a tradição.Como diria Geraldo Rocca… “meu velho Rio Paraguai a tradição entre nós é você.”
Matéria do Correio do Estado.