A alfabetização não é apenas aprender a juntar letras em sílabas, sílabas em palavras e palavras em textos. Os aspectos fonológicos são importantes sim, mas também é fundamental saber e compreender para que a escrita serve e qual o papel da escrita na nossa sociedade. Além disso, é importante entender a situação de comunicação e quais são os aspectos que diferenciam língua escrita de língua falada. Todos esses conhecimentos, que são muitos, não se reduzem a apenas uma questão de método. Então, eu vejo com preocupação a defesa de um único método como a solução para a alfabetização no país. Sobretudo este método fônico que não considera o contexto e nem os aspectos do desenvolvimento das crianças.
Futura & Educação: Você frisou que o contexto é muito importante nesse processo de alfabetização. Muitas vezes, os professores se queixam que o contexto social e econômico em que eles foram formados é bem diferente do ambiente em que eles vão dar aulas. Qual a importância da formação continuada dos professores e de cursos capacitação para a primeira infância e alfabetização?
Ana Helena Altenfelder: A formação dos professores – tanto a inicial quanto a continuada – é fundamental. E no contexto de precarização da formação inicial dos professores, a formação continuada adquire uma importância ainda maior. Ser professor alfabetizador é uma tarefa complexa e que requer muita formação. O professor alfabetizador precisa saber fazer diagnóstico (do grupo e de cada criança), planejar e construir instrumentos ou buscar instrumentos prontos que possam auxiliar na sua tarefa de ajudar as crianças a ler e escrever. Além disso, ele também precisa acompanhar a aprendizagem e ter clareza nos seus objetivos, replanejar e pensar em novas intervenções. A articulação de todos esses saberes e fazeres que faz o professor ter realmente sucesso na sua tarefa. O professor alfabetizador não é um simples aplicador de material.
“O professor alfabetizador não é um simples aplicador de material.”
Futura & Educação: 55% das crianças hoje no Brasil não são alfabetizadas. Quais políticas públicas o governo deve priorizar para reverter essa triste estatística?
Ana Helena Altenfelder: É fundamental haver política pública de alfabetização e de acompanhamento da aprendizagem. O Brasil avançou muito com as avaliações externas que nos dão uma panorama da educação, mas elas não avaliam a sala de aula. É preciso uma avaliação formativa onde o professor e a escola efetivamente vejam o nível de aprendizado e desenvolvimento de cada um dos alunos e reorganizem as atividades práticas para que os alunos possam aprender e não deixar ninguém para trás.